Cirurgia redutora de risco em câncer de mama

Cirurgia redutora de risco em câncer de mama
Cirurgião plástico e membro da sociedade plástica no Brasil: Thiago Bezerra de Morais, CRM-PE 16484
Criação: 27 jan 2014 · Atualização: 17 nov 2020

É fato que o tema “redução de risco" tem-se tornado cada vez mais frequente em nosso meio, fato este decorrente do maior esclarecimento da população sobre as medidas de identificação de risco, a presença de ferramentas diagnosticas para definição do risco (organogramas, mapeamento genético, pesquisa de genes BRCA 1-2), bem como a maior exposição na mídia de fatos sobre o tema.

Neste último, foi preponderante o grande impacto ocorrido no primeiro semestre do ano passado, após as declarações da atriz Angelina Jolie, que se submeteu a uma cirurgia de adenomastectomia bilateral e reconstrução mamária imediata. A atriz apresentava o antecedente familiar e a presença da mutação do gene BRCA. Em recente estudo realizado no Memorial Sloan-Kettering Hospital de Nova York, foi constatado um aumento na indicação de mastectomia profilática contra lateral de 6% para 24% nos últimos 9 anos e a tendência é que continue a progressão.

Desta forma, tem-se tornado cada vez mais frequente a presença de casos semelhantes no dia a dia do consultório do cirurgião plástico, principalmente nos colegas que têm maior vínculo com serviços terciários múlti profissionais para tratamento do câncer de mama (grupo em que me incluo).

Segundo a maioria dos protocolos e diretrizes em câncer de mama, para ser considerado alto risco para câncer de mama, é preciso ter comprovado o histórico familiar de câncer de mama/ ovário e exames complementares. Assim, o histórico familiar para doenças oncológicas é de grande importância e deve ser avaliado com cautela e em conjunto com geneticistas e mastologistas. Associado ao histórico familiar, deve-se também haver a complementação, em casos selecionados, da pesquisa genética de mutações já estabelecidas e comprovadas que aumentam o risco individual da mulher para câncer mamário.

Já disponível em alguns centros no Brasil, a pesquisa da mutação dos genes BRCA 1-2 estabelece um risco maior para o desenvolvimento do câncer, mesmo sem antecedentes familiares. Em estudo publicado por Domchek et al no JAMA em 2010 foi concluído que, no grupo das mulheres com mutações BRCA 1-2, o uso da mastectomia redutora de risco foi associado a menor risco de câncer de mama.

↪️ Vídeo: A recuperação da mama após o câncer

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De fato, na grande maioria das situações, as indicações não são objetivas e exatas e, mesmo à luz do conhecimento atual, existem ainda controvérsias em relação a real redução do risco. Na verdade, o grande ponto negativo é que teoricamente estaremos realizando cirurgias amplas e não isentas de riscos em uma faixa etária relativamente jovem e em pacientes que não apresentam “doença", mas sim um risco hipotético de uma situação futura imprevisível.

Dessa forma, a discussão ampla e em conjunto com todos os profissionais relacionados quais sejam oncologista, mastologista, cirurgião plástico, geneticista e, principalmente, a paciente se faz necessário com o intuito de avaliar o binônimo custo-benefício. Outro dado relevante é que cerca de 90% dos casos de câncer de mama ocorrem sem nenhuma relação com os genes BRCA 1-2; ademais, mesmo em pacientes com história familiar positiva (< 10% dos casos), os genes mutantes podem ser “responsáveis" por um número menor de casos. Paralelamente à conduta cirúrgica existem ainda alternativas como seguimento por imagem (mamografia, USG, ressonância magnética...) intensivo, uso de medicações anti-hormonais como SERMS e mudanças no estilo de vida.

É fato que a atuação do cirurgião plástico no câncer de mama não é recente e teve maior interação a partir da década de 70, com o advento da abordagem imediata da reconstrução em conjunto com a cirurgia oncológica. Nos últimos anos é notória a contribuição das inúmeras técnicas de reconstrução mamária no tratamento global do câncer de mama. De fato, a ausência de planejamento pré-operatório, sem técnicas de reconstrução, pode resultar em sequelas estéticas e funcionais com insatisfação por parte das pacientes, perdendo-se assim o sentido do tratamento do câncer e significativo impacto negativo na qualidade de vida.

É fato que a grande totalidade das técnicas e procedimentos reconstrutivos empregados na reparação da mama foram introduzidos por cirurgiões plásticos em décadas de estudos anatômicos, experimentais e clínicos. Na grande maioria dos centros oncológicos no mundo, há a presença ímpar do cirurgião plástico como membro atuante da equipe múlti profissional. Essa é uma das bases de atuação da CNRM – SBCP (Comissão Nacional de Reconstrução Mamária da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica).

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Foto: por ANSESGOB (Flickr)

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